segunda-feira, 28 de setembro de 2009

NÃO EXISTE DEMOCRACIA EM SENADOR CANEDO!


O movimento social brasileiro vem enfrentando sérios desafios nos últimos anos com o recrudescimento do autoritarismo. Como um ranço da ditadura militar que continua presente e assola todos os que ousam desafiar a ordem imposta pelo capital, o Estado age no intuito de tutelar ou criminalizar o movimento popular. Com isso, a questão democrática entra novamente na cena política do país, como uma reivindicação do movimento popular organizado no campo e na cidade.
Dessa forma, antevendo todo esse processo de criminalização, o filósofo alemão Hebert Marcuse, já chamava a atenção para o pensamento único constituído na sociedade industrial. O filósofo cunhou o termo unidimensional para afirmar que essa é uma ideologia (unideologia) que representa a integração aos interesses da sociedade tecnocrática, alienando os indivíduos e desvirtuando as liberdades individuais, não permitindo espaço para intervenções críticas ao modelo estabelecido, por isso sendo considerada por este como uma sociedade totalitária.
Não concordamos com toda a análise de Marcuse, mas afirmamos que muitos dos governantes acreditam na necessidade de fortalecer essa perspectiva autoritária. Querem que a sociedade brasileira funcione através de uma perspectiva unidimensional, em que não exista espaço para um pensamento crítico e nem para a organização dos trabalhadores.
Dessa forma, no dia 12 de agosto, fui vítima de um atentado perpetrado pela prefeitura de Senador Canedo, na figura da primeira dama do município, Izaura Cardoso, o que representa a continuidade dessa perspectiva autoritária e de combate aos movimentos sociais organizados.
A Srª. Isaura está em plena campanha eleitoral, com o objetivo de construir uma candidatura para deputada federal. Por isso se mobiliza e se articula através de todos os meios. Tornou-se Secretária de Assistência Social com o objetivo de fazer uma política baseada no assistencialismo, aproveitando-se da situação de miséria presente no município para angariar votos em suas pretensões eleitorais.
Assim, a Srª. Isaura, participa e organiza, uma série de atividades pela cidade, como palestras, shows e etc., com o claro objetivo politiqueiro de divulgar o seu nome e construir uma base eleitoral. Esses eventos estão sendo organizados com o soldo da prefeitura. Dessa forma, no dia 12 de agosto, ela organizou uma palestra sobre violência e intimou os funcionários da limpeza urbana a comparecerem no Clube Municipal, em pleno horário de expediente.
Na manhã do dia 12, vários servidores da limpeza urbana haviam me procurado no sindicato com o intuito de denunciar a absurda precarização do trabalho que estão enfrentando. Afirmaram que estão trabalhando sem botas, luvas, chapéus, ou seja, sem os Equipamentos de Proteção Individual (EPI), o que leva ao risco de acidente todos esses trabalhadores. Além disso, todos estavam reclamando do corte do vale-transporte realizado pela prefeitura. Como sou sindicalista e a nossa função é cobrar por melhorias das condições de trabalho dos funcionários da prefeitura, fomos à palestra da primeira dama entregar alguns panfletos que cobravam os EPI e os vale-transportes.
Estávamos entregando os panfletos e o capanga da primeira dama, Sargento Amarildo, nos pediu para distribuir ao final do evento. Respeitamos e esperamos a palestra acabar. Ao final do evento, quando retornamos a nossa atividade, o Sargento Amarildo tentou me retirar à força do local, sendo impedido pelos nossos companheiros e pelos trabalhadores.
Quando fui me retirar do local do evento, o Capanga Amarildo me cercou e me ameaçou de morte, falando: “não ande sozinho em Senador Canedo, sou da polícia e mato mesmo!”. Retruquei a afirmação de Amarildo afirmando que “vivemos em uma democracia” e falei que “não discutiríamos daquela forma e naquela situação”. Quando dei as costas para o sargento, ele pegou um gás de pimenta e borrifou em minha boca, olhos e todo o corpo, levando às graves queimaduras em meu rosto. Alguns trabalhadores me acudiram e me ajudaram chegar à delegacia, onde registrei queixa. Liguei para os advogados do sindicato que foram prestar toda a solidariedade ao caso. Mas o capanga continuou me seguindo pelas ruas de Senador Canedo e me ameaçando de morte até o Pronto-Socorro, onde fiz um exame de corpo delito.
Fiz a denúncia no Ministério Público, na Corregedoria da Polícia Militar, na Comissão de Direitos Humanos da Assembléia. Mesmo com todos esses problemas o Sargento-capanga Amarildo continua trabalhando de forma irregular como segurança da primeira dama, demonstrando que essa é conivente com os atos do mesmo. Pretendemos que esse fato não caia no esquecimento ou que a burocracia corporativa abafe o caso. Esse é um claro exemplo da falta de democracia e do ranço autoritário em nosso país, expresso na política de Senador Canedo.

Antônio Gonçalves Rocha Júnior, é historiador, sindicalista, mestrando em história e professor. ligaoperariansc@yahoo.com.br